terça-feira, 22 de junho de 2010

A guerra de Dunga com a Globo

Globo negociou entrevistas com Ricardo Teixeira, mas Dunga vetou
Mauricio Stycer
Em Durban (África do Sul)

Dunga vetou entrevistas exclusivas da Globo com três jogadores da seleção na África do Sul

Por trás do incidente entre Dunga e o jornalista Alex Escobar, da Rede Globo, durante a entrevista coletiva no Soccer City, logo depois da vitória do Brasil sobre a Costa do Marfim, esconde-se uma história que revela o alcance do poder do técnico da seleção brasileira.

O UOL Esporte apurou que a Globo negociou diretamente com Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), entrevistas exclusivas com três jogadores da seleção, entre os quais Luis Fabiano. As entrevistas iriam ser exibidas durante o programa “Fantástico”, no domingo, horas depois da partida contra Costa do Marfim, vencida pelo Brasil por 3 a 1. Dunga vetou o acerto.

O incidente entre Dunga e Alex Escobar ocorreu quando o jornalista conversava ao telefone com o apresentador Tadeu Schmidt exatamente sobre este assunto. O técnico percebeu o que ocorria e perguntou: “Algum problema?” Escobar respondeu: “Nem estou olhando para você, Dunga”. O técnico replicou em voz baixa, o suficiente para ser captado pelo microfone à sua frente: “Besta, burro, cagão!”


Diversos jornalistas na sala de entrevistas ouviram Escobar desabafar: “Insuportável, bicho, insuportável. O Rodrigo (Paiva) foi revoltado lá falar comigo, cara. O Dunga não deixou. Ninguém. Caraca, nem o Luís Fabiano. Infelizmente. Valeu, Tadeuzão”.

Muitos também notaram que Rodrigo Paiva, diretor de comunicação da CBF, fez o gesto de quem soca a parede a certa altura da entrevista coletiva. Paiva tem tentado se equilibrar entre o atendimento à imprensa e o respeito às exigências de Dunga. No cargo há nove anos, gentil com todos os jornalistas, o assessor dá sinais cada vez mais evidentes de reprovação à política de clausura imposta pelo técnico.

Horas depois do incidente, durante o “Fantástico”, Schmidt falou: “O técnico Dunga não apresenta nas entrevistas comportamento compatível de alguém tão vitorioso no esporte. Com frequência, usa frases grosseiras e irônicas”. O jornalista da Globo não mencionou, no entanto, o motivo do atrito, ou seja, a recusa do técnico em aceitar um acordo feito entre o presidente da CBF e a emissora.


Como foi?

Segunda feira, véspera do jogo de estréia da seleção brasileira contra a Coréia do Norte,
por volta de 11 horas da manhã, hora local na África do Sul.

Eis que de repente, aportam na entrada da concentração do Brasil, dona Fátima Bernardes, toda-poderosa Primeira Dama do jornalismo televisivo, acompanhada do repórter Tino Marcos e mais uma equipe completa de filmagem, iluminação etc.

Indagada pelo chefe de segurança do que se tratava, a dominadora esposa do chefão William Bonner sentenciou :

" Estamos aqui para fazer uma REPORTAGEM EXCLUSIVA para a TV Globo, com o treinador e alguns jogadores..."

Comunicado do fato, o técnico Dunga, PESSOALMENTE dirigiu-se ao portão e após ouvir da sra. Fátima o mesmo blá-blá-blá, foi incisivo, curto e grosso, como convém a uma pessoa da sua formação.

" Me desculpe, minha senhora, mas aqui não tem essa de "REPORTAGEM EXCLUSIVA" para a rede Globo. Ou a gente fala pra todas as emissoras de TV ou não fala pra nenhuma..."

Brilhante !!! Pela vez primeira em mais de 40 anos, um brasileiro peitava publicamente a Vênus Platinada !!!

" Mas... prosseguiu dona Fátima - esse acordo foi feito ontem entre o Renato ( Maurício Prado, chefe de redação de Esportes de O Globo ) e o Presidente Ricardo Teixeira. Tenho autorização para realizar a matéria".

- " Não tem autorização nem meia autorização, aqui nesse espaço eu é que resolvo o que é melhor para a minha equipe. E com licença que eu tenho mais o que fazer. E pode mandar dizer pro Ricardo ( Teixeira ) que se ele quer insistir com isso, eu entrego o cargo agora mesmo!"

O treinador então virou as costas para a supra sumo do pedantismo e saiu sem ao menos se despedir.

Quem presenciou na noite de domingo o editorial do programa "Fantástico" da rede Globo, lido pelo repórter Tadeu Schmidt, há de ter compreendido todo o desespero que se apossou da "Vênus Platinada", em relação ao técnico da seleção brasileira.

Chamando-o de "grosseiro, mal educado " e outros mimos a mais, a poderosa estação do Jardim Botânico viu pela primeira vez em mais de 40 anos, um brasileiro desafiar seu domínio, e literalmente mijar na sua cabeça.

Recordando os fatos mais recentes, inconformado com a proibição das tais "entrevistas exclusivas" que só seriam concedidas à Globo, na sexta feira o Assessor de Imprensa da CBF levou ao técnico Dunga outro memorandum, dessa vez do próprio Presidente Ricardo Teixeira, solicitando que se ordenasse a abertura para que as tais "exclusivas" fossem concedidas.

Dunga então rasgou o memorandum na frente do Assessor de Imprensa e como a reclamação vinha diretamente por ordem da Todo-Poderosa sra. Fátima Bernardes, Prima Dona do jornalismo televisivo, Dunga foi mais uma vez taxativo :

- Diz pro Ricardo que se é o que ele deseja, que coloque essa senhora como treinadora da seleção, eu entrego meu cargo" !!!!
João Ignácio Muller - JIM

Dunga corta privilégios da TV Globo

EDUARDO ARRUDA
MARTÍN FERNANDEZ
PAULO COBOS
SÉRGIO RANGEL

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

A briga entre Dunga e a Rede Globo, escancarada pela emissora na noite de anteontem no programa "Fantástico", é mais um capítulo de uma disputa inédita por mais acesso à seleção brasileira.

Ao longo dos últimos dois anos, o treinador encerrou décadas de privilégios da TV e partiu para o confronto.

Nesse caminho, acumulou palavrões contra profissionais da emissora, pediu a cabeça de desafetos no canal e se colocou no papel de censor e crítico de reportagens.

Os primeiros pedidos da emissora negados por Dunga datam de maio de 2008, quando o Brasil fez um amistoso com a Venezuela em Boston. Na ocasião, o técnico vetou a participação de Diego e Robinho em programa.

O choque ganhou força na Olimpíada de Pequim, quando o treinador passou a acreditar que jornalistas que faziam a cobertura da sua equipe, especialmente alguns da Globo, torciam contra o Brasil e queriam sua demissão.

Ao ganhar a medalha de bronze do torneio, virou-se para a tribuna onde estavam repórteres de vários veículos e fez xingamentos parecidos com os do último domingo --contra o jornalista da Globo Alex Escobar, no Soccer City, durante a entrevista da Fifa, após a vitória de 3 a 1 sobre a Costa do Marfim.

Dunga resistiu ao fracasso olímpico, passou a acumular bons resultados e ganhou força para perseguir seus desafetos, inclusive na Globo.

O ápice da disputa aconteceu quando pediu a demissão de Mário Jorge Guimarães, um dos principais profissionais da emissora até então na cobertura da seleção.

Guimarães acabou deixando suas funções na Globo e assumiu um cargo executivo no Sportv, canal esportivo por assinatura da empresa.

No ano passado, no próprio Sportv, Dunga atacou sem rodeios a cobertura que a emissora fazia sobre o time.

Criticou reportagem do jornalista Mauro Naves, outro que esteve em Pequim, em que o profissional descrevia um treino da equipe como "leve" --Dunga detesta quando alguém fala que seu time não treinou pesado.

Falcão, um dos principais comentaristas da emissora, é outro profissional da Globo na lista negra do técnico.

Em maio, no dia em que anunciou os 23 jogadores que iriam ao Mundial, Dunga fez rara deferência à emissora e concedeu entrevista ao vivo no "Jornal Nacional", dando sinais de uma trégua.

Na Copa, porém, a relação se deteriorou rapidamente depois que Robinho, em dia de folga, falou com a TV em um shopping --foi obrigado a pedir desculpa ao elenco.

O ataque de anteontem foi a gota d'água, motivando a resposta da Globo, que deve azedar ainda mais uma relação que já foi umbilical.

http://www1.folha.uol.com.br/esporte/754911-dunga-corta-privilegios-da-tv-globo.shtml


Fifa rejeita punir Dunga por palavrões em coletiva pós-jogo da Copa

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

A Fifa analisou nesta terça-feira o vídeo da entrevista coletiva de Dunga após a vitória sobre a Costa do Marfim (3 a 1, no domingo) e não viu motivos para abrir uma investigação sobre a conduta do treinador.

Questionada pela Folha ontem sobre as ofensas proferidas pelo treinador da seleção brasileira na entrevista coletiva pós-jogo, a entidade, através do porta-voz Nicolas Maingot, havia prometido estudar o caso.

Após a entrevista coletiva de Maingot, outro assessor da entidade pediu à Folha detalhes sobre os xingamentos proferidos pelo treinador e afirmou que iria requisitar os vídeos para analisar o caso.

Como resultado da avaliação, a Fifa não quis fazer comparações entre o caso de Dunga e a entrevista do técnico da seleção argentina, Diego Maradona.

Dunga entrou em atrito com jornalista após o jogo com a Costa do Marfim
No final do ano passado, Maradona foi punido com dois meses de suspensão e multa de 25 mil francos suíços (cerca de R$ 42 mil) por caso semelhante.

Depois de vencer o Uruguai em Montevidéu e classificar a Argentina para o Mundial, Maradona ofendeu a imprensa: "Que chupem todos, e que continuem chupando", afirmou na ocasião.

Por causa da suspensão, Maradona não pôde dirigir a seleção num amistoso e não pode presenciar o sorteio das chaves para a Copa do Mundo.

Maradona foi punido de acordo com o artigo 57 do Código Disciplinar da Fifa (comportamento ofensivo). Em teoria, o mesmo em que Dunga poderia ser enquadrado.

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