sexta-feira, 19 de abril de 2013

A propaganda da Unimed e o desrespeito ao Futebol (Americano)

A propaganda da Unimed e o desrespeito ao Futebol (Americano).


NOTA:
A Confederação Brasileira de Futebol Americano - CBFA repudia a "propaganda" da UNIMED que está sendo vinculada na internet, denegrindo o Futebol Americano, um dos esportes que mais crescem no Brasil e no Mundo. https://www.facebook.com/canalunimed/posts/504258326304313


A 9mm Propaganda produziu uma propaganda para a Unimed Santa Catarina, empresa do ramo de planos de saúde e que é igualmente conhecida por ser "patrocinadora-parceira" do Fluminense, clube de futebol, na qual compara o plano de saúde da Unimed com planos "piores" e fez uma analogia infeliz entre futebol e futebol americano.

A propaganda já saiu do ar devido à repercussão negativa entre fãs e jogadores de futebol americano no Brasil. Mas fica o exemplo de como não se deve criar pré-conceitos contra qualquer tipo de esporte. Baixamos o vídeo e colocamos ele no YouTube. Assim, veja ele na íntegra:



matéria original: http://www.theconcussion.com/
Vejamos a sequência dos eventos da peça publicitária:

1. "Isso se chama futebol." (O vídeo mostra um jogador de futebol, com um uniforme que lembra o da seleção brasileira, fazendo embaixadinhas e prepara o espaço para a comparação com o futebol americano.)

2. "Isso também se chama futebol." (O narrador diz a frase em tom jocoso e o vídeo mostra um atleta de futebol americano fazendo algo parecido com um touchdown.)

Aqui, já fica claro o tom de deboche com o qual o FA será tratado no vídeo. Mas a coisa ficará pior, aguardem.

3. "A diferença é que um tem tradição e é mais típico da gente." (E lá vai o atleta canarinho com seus dribles...)

4. "Já o outro, a gente nem sabe como funciona." (E, do nada, o atleta de futebol americano bate a bola contra seu capacete algumas vezes.)

Apenas um questionamento: se "a gente nem sabe como o futebol americano funciona", então por que a audiência de canais que transmitem a NFL (a saber, ESPN e Esporte Interativo) apenas aumenta a cada ano e um torneio nacional de FA (no caso, o Torneio Touchdown) teve destaque na mídia, com direito a jogos transmitidos pelo Bandsports durante todo o ano de 2012?

5. "Assim são os planos de saúde: às vezes, eles até se parecem." (O vídeo mostra o jogador de FA tentando dar duas embaixadinhas seguidas na bola redonda, mas ele "isola" a bola, "quebrando uma vidraça".)

6. "Mas quando você compara, vê que o único que bate um bolão é a Unimed." (O jogador de futebol passa a bola oval - sim, A BOLA OVAL - por baixo das pernas do atleta de FA e faz outros dribles.)

Aqui, temos o "auge" da peça públicitária, que estabelece um paralelo entre os esportes e os planos de saúde, mantendo o tom jocoso contra o futebol americano que, implicitamente, é comparado a planos de saúde ruins (pelo menos, "ruins" na visão da Unimed). Em um País em que os planos de saúde não são conhecidos por serem um exemplo de eficiência, este tipo de comparação é desrespeitosa e, acima de tudo, não contribui em nada para a expansão do futebol americano no Brasil que, querendo ou não, é uma realidade.

E esse é o grande erro e, principalmente, o motivo principal pelo qual o perfil da 9mm Propaganda no Facebook está cheio de comentários (já foram retirados) contra o anúncio: seu conteúdo, infelizmente, aborda a prática e o ato de acompanhar do futebol americano com o "pré-conceito" típico de um País no qual o apoio a qualquer outro esporte que não seja o futebol (soccer) é praticamente nulo tanto do ponto de vista financeiro quanto do ponto de vista de exposição na chamada "grande mídia" e apenas contribui para que a monocultura esportiva, tão celebrada no Brasil, se perpetue cada vez mais.

No início da tarde de ontem, diante da repercussão negativa do vídeo, a Unimed se manifestou sobre o assunto. A íntegra do post pode ser lida clicando neste link, mas vamos citar um trecho do texto que chama a atenção:

"O filme em questão, produzido pela agência 9mm para a Unimed Santa Catarina, usa o esporte como mote para retratar o cenário mercadológico daquela região do país. A intenção dos criativos, hora nenhuma foi desmerecer os atletas ou o futebol americano, mas apenas comparar este esporte ao futebol que tradicionalmente conhecemos e que é uma das paixões nacionais, devido a sua maior abrangência e popularidade. Lamentamos qualquer interpretação que fuja dos objetivos que a agência de publicidade se propôs a atingir ao entregar esse filme."

Se a intenção era retratar o "cenário mercadológico" em Santa Catarina ou mesmo da Região Sul, então o tiro no pé da 9mm foi pior do que se pensava, uma vez que há dezenas de times de FA estabelecidos no Sul do Brasil, com campeonatos estaduais organizados, além de vários praticantes e admiradores do futebol americano que participam de forma ativa de diversos fóruns existentes na internet. A retratação da Unimed era mais do que necessária; contudo - como foi escrito acima - foi motivada exclusivamente pela repercussão negativa do vídeo.

Que fique claro: este texto não é um ataque ao Futebol da bola redonda ou um mimimi pelo fato do soccer ser mais popular aqui do que qualquer outro esporte. Muito pelo contrário. O editor que vos fala, aliás, está vestindo uma camisa do São Paulo e assistiu, torceu e apostou na Libertadores ontem.

O grande ponto é o preconceito, a ignorância e a mente fechada. É incompreensível que profissionais de publicidade - tidos naturalmente como liberais e mente aberta - tenham chegado ao lugar comum de fazer um filme publicitário do gênero. Espanta ainda mais o fato desses profissionais terem diploma de curso superior - e serem parte da elite intelectual deste país.

Esta, aliás, não foi a primeira vez que o Futebol Americano foi tratada de maneira exótica neste país - e tampouco será a última. Já vimos o texto de Rica Perrone, o Macarrão com Salsicha e atoda poderosa Rede Globo.  Agora foi a vez de uma empresa. Eu mesmo já sofri olhares tortos, em 2009, quando estava no cursinho e resolvi ir para a aula com uma jersey de Michigan. Me senti mal, me senti estranho.

Enfim, é a vida. Aliás não, não é a vida. Não é justo que o esporte receba essa conotação. Queira ou não, por mais chato, parado e complexo que os preconceituosos possam achar que o Futebol Americano seja, ele ainda é um esporte: e esporte promove a amizade e o bom caráter. A propaganda da Unimed promove a ignorância, o preconceito e o ódio. Quem está certo?

Não resta dúvidas que "nós". Mas desta vez temos como agir. Temos como nos movimentar. O CONAR é o órgão responsável por regulamentar a propaganda - age mais quando há a possibilidade de plágio, diga-se de passagem. Todavia, o CONAR também tem o poder de suspender anúncios como esse da Unimed. O site para denunciar é este: http://www.conar.org.br/

O The Concussion repudia esse tipo de "publicidade negativa" contra o futebol americano. O fato do futebol da bola redonda (que, diga-se, não foi inventado no Brasil) ser o esporte mais praticado e admirado no Brasil - e este cenário não mudará - não dá carta branca para que se trate um outro esporte com tanto desrespeito quanto esta propaganda tratou. Poderia ser contra qualquer outro esporte; criticaríamos com a mesma veemência. O importante é que TODOS os esportes tenham seu espaço.

Acredito, de coração, que um dia todos os esportes terão um mínimo de espaço no Brasil. Nós estamos conquistando o nosso. E toda vez - repito - toda vez que houver uma ofensa ao Futebol Americano no Brasil... toda vez... Lá estará o The Concussion. Porque não somos um site arroz com feijão, água com açúcar que só traduz notícia. Somos diferentes. Temos para nós a missão de defender o esporte que amamos. De ensinar sobre o esporte que amamos. De amar o esporte que amamos.

matéria original: http://www.theconcussion.com/

Ficha Técnica:
Direção de Criação: Alexandre Guedes
Redação: Alexandre Guedes, Anderson Nascimento
Direção de Arte: Ramiro Pimentel
Atendimento: Rodrigo Cancellier e João Marcondes
Mídia: Ana Clara
Produção: Kalinka Umbelino
Produtora: Cristal Broadcast
Direção de Cena: David Santaella
Produtora de áudio: Fujii Áudio
Aprovação: Dr. Jauro Soares, Robson Devegilli e Marciane K. Costa Franco


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